Descripción
Uma janela de madeira velho azul e vidros gastos pelo tempo, um, talvez dois séculos; um cadeirão confortável que ocupa, ao acaso e em silêncio, o espaço vazio contíguo; o som hipnótico de um relógio de parede testemunha de gerações; a segurança e o aconchego de uma casa de xisto habitada por sombras. No horizonte as memórias. A escola, com arquitetura Estado Novo, onde se aprendeu a ler num rigor de compasso, a primeira namorada, o tal beijo, as coisas do coração que desperta, os trabalhos de verão, o mealheiro improvisado e aqueles ténis da loja de desporto que teimavam em ser calçados; a universidade, o amor, os projetos profissionais e tantos outros acontecimentos marcantes na história da alma de cada um. De repente, um violento acidente, marcas e sons de uma travagem brusca, peças que perdem formas e se espalham por metros de estrada num abraço de sangue que escorre direção contrária ao sentido da vida. Com a viatura carregada com as últimas roupas, com alguns livros que insistiram em ficar e com as recordações do que ali tinha permanecido e vivido, segui para a aldeia, com toda a ilusão, com a esperança de uma nova vida. Recomeçar. Simplesmente isso. Recomeçar. Tentar apaziguar uma alma em sofrimento, à beira do abismo. Uma viagem fadada a um passado de ternura quase esquecido, um surpreendente reencontro marcado pelo destino na hora certa de um abraço, no momento exato de um suave roçar de lábios.
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